O Cancro da Mama
O organismo humano é constituído por triliões de células que se reproduzem pelo processo de divisão celular, responsável pela formação, crescimento e regeneração dos tecidos saudáveis do corpo.
Quando as células perdem a capacidade de limitar e comandar o seu crescimento, passam a dividir-se e multiplicar-se rápida e aleatoriamente. Consequentemente, ocorre um desequilíbrio na formação dos tecidos do corpo, no referido local, formando-se um tumor.
O cancro da mama pode-se originar nas glândulas mamárias, nos canais mamários, no tecido adiposo ou no tecido conjuntivo, apresentando-se, muitas vezes, como uma massa dura e irregular que, quando palpada, se diferencia do resto da mama pela sua consistência.
O cancro da mama é a forma de cancro mais comum na mulher, que tem vindo a aumentar deste a segunda metade do século XX.
· Calcula-se que uma em cada 12 mulheres irá desenvolver esta doença ao longo da sua vida.
· Se a doença for detectada precocemente, antes de ter tido hipóteses de progredir, atingindo outros tecidos e órgãos para além da mama, a taxa de sobrevivência pode chegar aos 95%.
· Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento, o cancro da mama continua a ser a principal causa de morte de mulheres com idades compreendidas entre os 35 e 55 anos e a segunda entre as mulheres de todas as idades.
· Em Portugal aparecem cerca de 4500 novos casos por ano.
· Em Portugal 1500 pessoas morrem, vítimas da doença.
Estrutura Normal da Mama
A pele é fina e lisa, excepto na auréola e no mamilo. O tecido sub-cutâneo contém essencialmente gordura. O tecido mamário é composto por um conjunto de glândulas, que da porção mais interna do órgão convergem, para a periferia, exteriorizando-se através do mamilo.
Esta estrutura altera-se em função da intensidade e qualidade do estímulo hormonal que recebe a cada momento, o que justifica as mudanças que a mama apresenta ao longo da vida da mulher.
As glândulas mamárias, que têm como principal a secreção do leite, estão situadas na parede anterior do tórax e são compostas por:
· Ácinos: menor parte da glândula, responsáveis pela produção do leite durante a lactação.
· Lóbulo mamário: conjunto de ácinos.
· Lobo mamário: conjunto de lóbulos mamários que se liga à papila através de um ducto.
· Ductos mamários (Canais lactíferos): conduzem o leite até à papila, através de 15 a 20 canais.
· Tecido glandular: conjunto de lobos e ductos.
· Papila: protuberância elástica onde desembocam os ductos mamários.
· Auréola (Aréola): estrutura central da mama onde se projecta a papila.
· Tecido adiposos: todo o resto da mama é preenchido por tecido adiposo ou gorduroso, cuja quantidade varia com as características físicas, estado nutricional e idade da mulher.
A mama também tem vasos linfáticos que transportam um líquido límpido, a linfa. Estes vasos terminam nuns órgãos pequenos e arredondados, os gânglios linfáticos. Encontram-se perto da mama, nas axilas, acima da clavícula, no peito.
Sinais e Sintomas Comuns do Cancro da Mama
Ao princípio, a mulher que tem cancro da mama não costuma apresentar sintomas. Habitualmente, o principal sintoma é uma massa que, com frequência, é diferente, ao tacto, do tecido mamário que a rodeia. Em mais de 80% dos casos de cancro da mama, a mulher descobre o inchaço por si só.
O cancro da mama pode apresentar vários sintomas:
· Aparecimento de nódulo ou endurecimento da mama ou axila.
· Uma massa que ao tacto se diferencie claramente do resto do tecido mamário ou que não desaparece.
· Mudança no tamanho ou no formato da mama.
· Alteração no tamanho, no bordo ou na posição do mamilo.
· Alteração na coloração ou na sensibilidade da pele da mama ou da auréola.
· Pele da mama, auréola ou mamilo com aspecto escamoso, vermelho ou inchado; pode apresentar saliências ou reentrâncias, de modo a aparecer “casca de laranja”.
· Perda de sangue ou de líquido pelo mamilo.
· Retracção da pele da mama ou do mamilo (mamilo virado para dentro da mama).
· Inchaço significativo da pele.
· Pele rugosa ou com covas.
· Feridas ou outras alterações das papilas.
· Acumulação local de fluidos tecidulares (edema).
O cancro da mama, quando no início, pode ser tratado antes que se espalhe por outros tecidos ou órgãos, quando as hipóeteses de cura são maiores e os tratamentos menos agressivos e não mutilantes.
Estádios do Cancro da Mama
O cancro da mama desenvolve-se em 5 estádios, desde que aparece:
Estádio 0: As células tumorais não têm carácter invasivo e localizam-se unicamente no interior dos ductos mamários: Carcinoma ductal in Situ.
Estádio 1: O tumor tem a forma de um nódulo (caroço) inferior a 2 cm de diâmetro e, normalmente, ainda não se estende a outros tecidos fora da mama.
Estádio 2: Há duas possibilidades:
- o tumor continua a ser inferior a 2 cm, mas estende-se aos gânglios da axila.
- o nódulo cresceu, mas sem ultrapassar 5 cm, com cerca de 50% de hipóteses de atingir os gânglios axilares.
Estádio 3: Existem também duas possibilidades:
- O nódulo não alcançou ainda 5 cm, mas já atingiu as axilas.
- O tumor apresenta extensão aos tecidos adjacentes à glândula mamária.
Estádio 4: As células tumorais apresentam extensão a outros tecidos e órgãos, proliferando em alguns deles, como o fígado, ossos, pulmão, pele e outras partes do corpo. É o que se conhece por metástases.
Uma vez identificado o estádio em que se encontra o Cancro da Mama, é possível ao médico planear o tratamento mais adequado a realizar.
Tipos de Cancro de Mama
É importante conhecer alguns termos utilizados para descrever os cancros da mama, porque o tratamento e prognóstico variam de doente para doente e em função do tipo de tumor.
· Carcinoma in situ: significa “cancro localizado”. É um cancro precoce que não invadiu nem se propagou para além do seu ponto de origem.
· Carcinoma ductal in situ (CDIS): o carcinoma ductal in situ é o tumor da mama não invasivo mais frequente. Começa nas paredes dos canais mamários e pode aparecer antes ou depois da menopausa. Pode notar-se como um inchaço e nas mamografias podem ser observadas minúsculas partículas de cálcio no seu interior (microcalcificações). É detectado, muitas vezes, através de uma mamografia antes de ser suficientemente grande para ser palpado. Normalmente, limita-se a uma área bem demarcada das mamas, e pode ser extraído por completo, mediante uma intervenção cirúrgica.
· Carcinoma lobular in situ (CLIS): embora não seja um verdadeiro cancro, o CLIS é por vezes classificado como um cancro da mama não invasivo. Muitos especialistas pensam que o CLIS não se transforma num carcinoma invasor mas as mulheres com esta neoplasia têm um maior risco de desenvolver cancro da mama invasor. Origina-se nas glândulas mamárias e normalmente desenvolve-se antes da menopausa.
Os cancros da mama invasivos, que se podem propagar e destruir outros tecidos, podem ser localizados (confinados à mama) ou metastáticos (que se espalharam por outras partes do corpo).
· Carcinoma ductal invasor (CDI): este é o cancro invasor da mama mais frequente. Tem origem nos ductos e invade os tecidos vizinhos. Nesta fase pode disseminar-se através dos vasos linfáticos ou do sangue, atingindo outros órgãos.
. Carcinoma lobular invasor (CLI): tem origem nas unidades produtoras de leite, ou seja, nos lóbulos. À semelhança do CDI, pode disseminar-se (metastizar) para outras partes do corpo.
Factores de Risco
São factores de risco:
· Envelhecimento: metade dos cancros da mama foi diagnosticado em mulheres com idades compreendidas entre os 35 e os 45 anos, ficando comprovado que o risco aumenta com a idade.
· Vida menstrual longa: causada por uma menarca (primeira menstruação) precoce ou por uma menopausa tardia.
· Nuliparidade: não ter filhos.
· Gravidez tardia: ter o primeiro filho após os 30 anos.
· Predisposição genética: tendência da doença na família, demonstrado em 5% dos casos, relevante quando há mais de dois antecedentes familiares directos.
· Exposição a agentes cancerígenos: podem ser de natureza química (ex.: Hidrocarbonetos aromáticos), física (ex.: raios ultravioleta, radiação ionizante como raios X e gama) ou biológica (ex.: vírus do papiloma).
· Obesidade: alimentação rica em gorduras.
· Álcool: a sua ingestão excessiva.
· Medicamentos contendo estrogénios: terapêutica de substituição hormonal ou pílulas contraceptivas.
· Poluição, “stress”, tabagismo e sedentarismo.
Auto-Exame
O auto-exame mamário é um exame mensal simples, que a mulher deve realizar para verificar a presença de cancro na mama. Quando se faz o auto-exame, deve-se procurar por protuberâncias ou ondulações, averiguar a espessura dos seios e a libertação de líquidos pelo mamilo. O principal indício de cancro da mama é a presença de caroço na mama. O auto-exame é responsável pela descoberta da maioria dos casos de cancro da mama.
Quando fazê-lo?
O auto-exame deve ser feito uma vez por mês, uma semana após a menstruação, quando os seios deixam de estar tão sensíveis ou inchados. As mulheres que já se encontram na menopausa, ou que tenham sido submetidas a qualquer operação ao útero ou ovários, devem realizar o auto-exame sempre no mesmo dia de cada mês.
Como fazer?
O auto-exame da mama consiste em cinco passos:
1ºPasso (no chuveiro):
Examine os seus seios no chuveiro ou na banheira, pois as mãos escorregam mais facilmente quando a pele está molhada ou ensaboada. Eleve o braço direito e deslize os dedos da mão esquerda suavemente sobre a mama direita estendendo até à axila. Repita o procedimento para a mama esquerda.
Deve procurar: caroços nas mamas ou axilas e secreções expelidas pelo mamilo.
Fique de pé em frente ao espelho. Olhe os seios com os braços esticados ao lado do corpo, com as mãos sobre a cabeça, com as mãos a apertar a cintura para que os músculos do peito estejam flexionados. Poderá verificar que os seios não são exactamente iguais, o que é normal.
Deve procurar: deformações ou alterações do formato das mamas, abaulamentos ou refracções, fendas à volta do mamilo.
Examine os seios com os dedos enquanto estiver sentada ou de pé. Devagar, aperte o seio com a mão oposta a ele.
Com os dedos esticados, trabalhe na direcção circular ou em espiral, começando do mamilo e movendo gradativamente para fora.
Coloque um travesseiro ou uma toalha enrolada debaixo do ombro esquerdo e ponha o braço esquerdo atrás da cabeça, de maneira a distribuir o tecido dos seios mais igualmente no tórax. Com os dedos da mão direita, realize o exame à mama esquerda, segundo o 3ºpasso. Inverta a posição para o lado direito e apalpe da mesma forma a mama direita.
Com o braço esquerdo posicionado ao lado do corpo, apalpe a parte externa da mama esquerda com os dedos da mão direita. Proceda de igual modo com o braço direito posicionado ao lado do corpo.
Deve procurar: caroços nas mamas ou axilas, secreções extraídas dos mamilos.
5ºPasso:
Se, durante o auto-exame, encontrar alguma protuberância, ondulação ou libertação de fluido, deve consultar o seu médico, logo que lhe seja possível. A maioria dos caroços não são canceroso, mas isso apenas o médico pode diagnosticar.
Diagnóstico Clínico do Cancro da Mama
1.Apalpação
Apalpando a mama com as mãos, o médico poderá sentir a presença de um nódulo. Neste caso, ele poderá solicitar alguns exames, tais como:
2.Mamografia
É o principal exame realizado às mamas, através de raios X específico para examinar as mamas. Como é muito preciso, permite ao médico saber o tamanho, localização e as características de um nódulo com apenas alguns milímetros, que ainda não poderia ser distinguido através da palpação.
Normalmente a partir dos 35 anos, é aconselhavel uma mulher realizar uma mamografia anualmente.
3.Ultrassonografia (ecografia)
É maioritariamente o complemento da mamografia e premite informar se o nódulo é sólido ou contém líquido (cisto).
4.Citologia aspirativa
Por meio de uma agulha fina e de uma seringa, o médico aspira certa quantidade de líquido ou uma pequena porção do tecido do nódulo para exame microscópico.
Esta técnica esclarecerá se trata de um cisto (preenchido por fluido), que não é cancro, ou de un nódulo sólido, que pode ou não corresponder a um cancro.
5.Biópsia
É o procedimento (cirúrgico ou não) para colher uma amostra do nódulo suspeito. O tecido retirado é examinado ao microscópio pelo patologista. Este procedimento permite confirmar se estamos perante um cancro da mama.
6.Receptores hormonais (estrógeno e progesterona)
São testes de laboratório solicitados pelo médico, caso o cancro seja diagnosticado durante a biópsia. Estes testes revelam se as hormonas podem ou não estimular o crescimento do cancro.
Com esta informação, o médico pode decidir se é ou não aconselhável a indicação de um tratamento à base de hormonas. Esses testes são feitos no tumor e a amostra é colhida durante a biópsia.
Caso a biópsia detecte um tumor maligno, outros testes laboratoriais serão feitos no tecido para que se obtenha mais dados a respeito das características do tumor.
Também serão solicitados exames (raio X, exames de sangue, ecografia, cintilograma ósseo, provas de função hepática etc.) para verificar se o cancro está presente em outros órgãos do corpo.
Todos os testes e exames solicitados pelo médico têm como objectivo avaliar a extensão e o estádio da doença no organismo.
O sistema de estadiamento do cancro da mama leva em conta o tamanho do tumor, o envolvimento de gânglios linfáticos da axila próxima à mama e a presença ou não de metástases a distância.
Opções de Tratamento
- Cirurgia: É o tratamento inicial mais comun e o principal tratamento local. O tumor da mama é removido, assim como os gânglios linfáticos da axila. Estes gânglios filtram a linfa que flui da mama para outros espaços do corpo e através deles o cancro pode ser alastrado.
- Radioterapia: Utiliza raios de alta energia com capacidade de destruir as células cancerosas e impedir que elas se multipliquem. Tal como a cirurgia, a radioterapia é um tratamento local. A radiação pode ser externa ou interna.
- Quimioterapia: é a utilização de drogas que agem na destruição das células malignas. Podem ser aplicadas através de injecções intramulculares, endovenosas ou por via oral.
- Hormonoterapia: Tem como finalidade impedir que as células malignas continuem a receber a hormona que estimula o seu crescimento. O tratamento pode incluir uso de drogas, que modificam a forma de actuar das hormonas, ou a cirurgia, que remove os ovários (órgãos responsáveis pela produção dessas hormonas). Da mesma maneira que a quimioterapia, a terapia hormonal actua nas células do corpo todo.
- Reabilitação: É o auxílio dos métodos de tratamento para que a paciente tenha melhor qualidade de vida. É feita através da cirurgia plástica de reconstrução e dos serviços médicos de apoio (fisioterapia, psicologia, etc.).
Tipos de Cirurgia no Tratamento do Cancro da Mama
- Tumorectomia: É a cirurgia que remove apenas o tumor. Em seguida, aplica-se a terapia por radiação. Ás vezes os gânglios linfáticos das axilas são retirados como medida preventiva. É aplicada em tumores mínimos.
- Quadrantectomia: É a cirurgia que retira o tumor, uma parte do tecido normal que o envolve e o tecido que recobre o peito abaixo do tumor. É, pois, um tratamento que conserva a mama. A radioterapia é aplicada após a cirurgia.
- Matectomia (simples ou total): É a cirurgia que remove apenas a mama. Ás vezes, no entanto, os gânglios linfáticos mais próximos também são removidos. É aplicada em casos de tumor difuso. Pode manter-se a pele da mama que auxiliará a reconstituição plástica.
- Mastectomia radical modificada: É a cirurgia que retira a mama, os gânglios linfáticos das axilas e o tecido que reveste os músculos peitorais.
- Mastectomia radical: É a cirurgia que retira a mama, os músculos do peito, todos os gânglios linfáticos da axila, alguma gordura em excesso e pele. Raramente é utilizada.
Biotecnologia e Cancro da Mama - Anticorpos Monoclonais
Os anticorpos monoclonais bloqueiam a função dum gene associado ao crescimento do cancro da mama agressivo, atingindo somente as células cancerosas. Esta terapêutica atinge e bloqueia a função do gene HER2 do cancro, cuja produção excessiva contribui para o crescimento descontrolado das células (marca característica do cancro), sendo as doentes, que se encontram nesta situação, designadas HER2-positivas.
Acredita-se que este tipo de terapêutica estimula o sistema imunitário para destruir as células cancerosas. Os efeitos secundários são febres e arrepios, após a administração do primeiro fármaco.A terapêutica com anticorpos monoclonais está condicionada à existência de um diagnóstico fiável do status de HER2. Esta nova abordagem do cancro da mama é um grande avanço para as doentes HER2-positivas, proporcionando uma melhoria na qualidade de vida e prolongando a vida das doentes com formas agressivas de cancro da mama.